Tutorial: Como calcular o Ideb com o R

Leonardo Yada
5 min readFeb 16, 2021

Introdução

É cada vez mais recorrente o uso de indicadores na gestão pública como meio de sintetizar numericamente determinada dimensão da realidade como, por exemplo, desempenho educacional dos alunos de uma escola, taxas de rendimento e etc.. Também é possível criar uma medida que combine dois ou mais indicadores, com o fim de sintetizar numericamente duas ou mais dimensões de interesse, a qual denominamos índice. No contexto da educação, destaca-se o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), introduzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2006.

Ideb

O surgimento do Ideb inseriu, no centro do debate, a importância de se avaliar a qualidade da educação e a trajetória dos alunos, não se limitando, portanto, à expansão dos sistemas e aos processos de ensino e gestão. Sendo assim, compõem o Ideb um indicador de desempenho, que busca sintetizar o aprendizado dos alunos a partir das proficiências em língua portuguesa e matemática, e um indicador de rendimento, que visa sintetizar a experiência de aprovação em uma escola ou sistema a partir das taxas de aprovação. Posteriormente, será apresentado como calcular o Ideb utilizando o software R.

Calculando o indicador de desempenho

Importando a base de dados a ser utilizada e realizando a leitura do arquivo no software R

Para calcular o indicador de desempenho de uma escola, é necessário baixar os microdados da Prova Brasil, disponíveis no portal do Inep. Após finalizar o download, importe a tabela TS_RESULTADO_ESCOLA no R, para realização dos cálculos. Veja abaixo que é possível utilizar a função fread, disponível no pacote data.table, para leitura rápida do arquivo. Neste artigo, calculou-se o Ideb de 2017, dado que é o último resultado publicado pelo INEP.

Padronizando as medidas de proficiência em Leitura e Matemática

O desempenho das escolas é medido a partir da média das proficiências em cada uma das competências. Entretanto, como as escalas das medidas são diferentes, é preciso padronizá-las, a partir da fórmula abaixo, em que os limites inferiores e superiores são os valores situados a três desvios-padrão acima e abaixo da proficiência média de todos os alunos que fizeram o Saeb em 1997:

(Proficiência da Escola — Limite Inferior das Proficiências)/(Limite Superior das Proficiências — Limite Inferior das Proficiências)

Abaixo, foi criada uma função para calcular a proficiência média padronizada da escola em determinado componente:

Optou-se por multiplicar o resultado por dez para que o resultado seja um valor entre zero e dez, comumente utilizado como padrão nas notas de avaliação nas escolas.

Calculando o desempenho da escola

Em seguida, calcule o indicador de desempenho para cada uma das etapas de ensino, utilizando a fórmula criada acima para calcular a média normalizada da proficiência em cada um dos componentes. Veja, abaixo, que o indicador de desempenho nada mais é do que a média aritmética das médias das proficiências por etapa de ensino.

Calculando o indicador de rendimento

Importando a base de dados a ser utilizada e realizando a leitura do arquivo no software R

Para calcular o indicador de rendimento, é preciso baixar a base de dados que contém a taxa de rendimento por escola no site do Inep. Para facilitar o manuseio da base, optou-se por utilizar a função cell_limits, com o fim de excluir o cabeçalho e a fonte do arquivo em excel. Além disso, as variáveis que contém as taxas de aprovação foram convertidas para o tipo de dado numeric, para a posterior realização dos cálculos.

Calculando o rendimento da escola

O indicador de rendimento, utilizado no cálculo do Ideb, é calculado a partir da razão entre o número de anos da etapa de ensino e o número de anos letivos que o aluno, de fato, gasta para completar a série na escola. Por exemplo, para os anos iniciais, chega-se ao indicador de rendimento através da razão entre cinco (número de anos na etapa) e a quantidade de anos gasta pelos alunos da mesma escola para finalizar a etapa.

Para se chegar na quantidade de anos letivos que o aluno gasta para completar a série, basta calcular a razão entre 1 e a taxa de aprovação no ano/série. Veja abaixo que foram criadas variáveis específicas para atribuir tais valores e que as taxas foram divididas por 100, para que fiquem entre 0 e 1.

Por fim, para calcular o indicador de rendimento, divide-se a quantidade de anos letivos na etapa pela soma dos anos necessários para completar cada um dos anos/séries da etapa de ensino, conforme o cálculo abaixo.

Calculando o Ideb

O cálculo do Ideb, finalmente, é expressado pela multiplicação entre os indicadores de desempenho e de rendimento. Veja, na imagem abaixo, que foi realizado o relacionamento entre a tabela que contém o indicador de desempenho e a tabela que contém o indicador de rendimento, através da variável ID_ESCOLA, presente em ambas as tabelas. Para facilitar a visualização, ainda, selecionou-se, apenas, as variáveis de interesse utilizadas no cálculo do Ideb.

Interpretando o Ideb

Para interpretar o Ideb, é preciso tomar cuidado, pois, apesar de ser representado por um valor que, teoricamente, varia de zero a dez, valores abaixo de dois e acima de oito são pouco prováveis na prática, como é possível visualizar nos histogramas abaixo:

Fonte: elaboração própria.

Os valores do Ideb estão relacionados às proficiências dos alunos que, por sua vez, são classificadas em “abaixo do básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”. Portanto, criou-se uma tabela de classificação do Ideb com as seguintes faixas: “baixo”, “médio baixo”, “médio”, “médio alto” e “alto”. Esta tabela ajuda a interpretar o índice para determinada escola, rejeitando, portanto, a metáfora da nota escolar que varia de zero a dez.

Referência bibliográfica

PONTES, Luís Antônio Fajardo. Indicadores educacionais no Brasil e no mundo: As diversas faces da Educação. In: Avaliação e Indicadores Educacionais e Políticas Públicas e Legislação em Educação Profissional, V.1, p. 11–31, 2012.

SOARES, José Francisco; XAVIER, Flávia Pereira. Pressupostos educacionais e estatísticos do Ideb. Educação & Sociedade, Campinas, v. 34, n. 124, p. 903–923, 2013.

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